Os homens e os animais dispõem de programas genéticos que são "responsáveis" pelas características que estes possuem, nomeadamente as fisiológicas, psicológicas e comportamentais.
Os animais, desde muito cedo, conseguem saber quais as melhores presas, a forma mais eficaz de as capturar, selecionar locais de refúgio, técnicas para construir abrigos, a altura exata de seduzir os seus parceiros e as condutas de proteção dos seus filhos, tudo isto de forma instintiva.
Todo este processo está inscrito na sua natureza, resulta do código genético próprio de cada espécie, determinando as condutas que cada indivíduo efetua com vista à sobrevivência e à continuidade da espécie. Decorrem dois aspetos característicos com esta programação prévia:
- o animal faz o que deve fazer, através de condutas ajustadas às situações, tornando-se em especialistas competentes cumpridores rigorosso do que está inscrito no seu programa genético;
- o animal carece de de originalidade ao reagir às situações ambientais; pois as suas condutas são estáveis e uniformes, não variam entre indivíduos da mesma espécie.
O homem não é tão hábil nas condutas como os animais, no entanto, está apto a deitar a mão a várias tarefas. Uma vez que não tem uma competência cega como os animais, tem de aprender ou inovar em busca de uma forma mais adequada de realizar as atividades. O ser humano dispõe de uma margem de liberdade possibilitadora de comportamentos originais devido a ter nascido com uma falta de capacidades fixas e definitivas para reagir esteriotipadamente.
Com o objetivo de diferenciar os modos de reagir uniformes e geneticamente programados próprios dos animais e o repertório comportamental humano susceptível a variações e ampliações de acordo com a aprendizagem, Konrad Lorenz introduziu na etologia os conceitos de programa fechado e programa aberto.
Programa Fechado - Sequência organizada de comportamentos rígidos predefinidos no património genético da espécie e atualizados inatamente.
Programa Aberto - Sequência de comportamentos a definir pelo homem na interação do património genético com o meio ambiente e com aquilo que aprendeu.
A diferença destes dois programas está no contraste entre modos preestabelecidos de reagir e a originalidade de formas aprendidas de comportamento, onde a repetição esteriotipada e mecânica dá lugar à inovação.
De acordo com Fernando Savater, o ser humano está programado como "ser", mas não como "humano".
- Enquanto "ser", o homem dispõe de um programa auxiliar à sua estrutura biológica; com processos característicos à maturação e ao desenvolvimento do organismo. Da mesma forma, é possível antecipar as reações do corpo em certas circunstâncias, sendo capazes de prever os efeitos orgânicos de doenças e os comportamentos típicos do mau funcionamento glandular. Na perpetiva biológica, o homem obedece às leis gerais da vida, onde a programação genética não dá margem para grande abertura.
- Enquanto "humano",segundo Savater, o homem dispõe da "capacidade inata de levar a cabo comportamentos não inatos". O homem não é determinado pela espécie, mas sim um ser capaz de comportamentos únicos; daí a sua programação ser uma grande abertura. Os aspetos inatos, rígidos e específicos das condutas dão lugar aos comportamentos livres e aprendidos.
A constituição do ser humano como sistema aberto confere-lhe permeabilidade no meio e o benefício de tirar partido das situações: aprender coisas novas, corrigir erros, melhorar a ação, inovar estratégias, evoluir no tempo, adaptar-se às circunstâncias; pois o homem surge como um ser dotado de disponilidadepara aprender a entregar-se a comportamentos inovadores.
Ângela Rodrigues